Sendo um utilizador regular da bicicleta
na cidade, o tema da mobilidade interessa-me muito! Quando a conversa
puxa para aí, lá estou eu a defender o lugar das bicicletas e o seu
potencial transformador. São máquinas fantásticas, de uma eficiência
incomparável, e capazes de ser uma resposta simulaneamente prática e
prazerosa, para muitas das nossas necessidades.
Nestas conversas, raramente me
ouvem falar de ciclovias. Costumo até brincar dizendo que as há por
todo o lado: São pretas e com faixas brancas. Procuro assim surpreender e
contrariar os argumentos habituais do tipo "ah e tal, eu também fazia o
que fazes (usar a bicicleta no dia-a-dia) se houvessem mais ciclovias". A verdade é que para além das sempre faladas ciclovias, existem muitas outras formas de promover o uso da
bicicleta, nomeadamente medidas de acalmia e redução do tráfego
automóvel. Não sou por isso adepto da segregação das bicicletas. Elas
fazem parte do transito e o que faz falta é criar condições para a sã
convivência dos vários modos de transporte.
Resumindo, é
difícil ouvirem-me reivindicar uma ciclovia. Mais depressa, e faço-o
muitas vezes, aponto as baterias noutras direcções. Mas, claro está, as
ciclovias também têm as suas vantagens e há situações que as exigem.
No
meu commuting habitual, entre Algés e Lisboa, uso uma das poucas
ciclovias de Lisboa que considero realmente essencial e até bem
construída (apesar das sistemáticas inundações a que está sujeita) - a
ciclovia que liga a zona de pina-manique ao bairro da liberdade,
paralela à "radial de Benfica". Essa ciclovia é uma porta de acesso à
cidade muito importante e essencial para vários utilizadores. Sem ela,
teria que fazer um circuito bem maior e por zonas mais perigosas em
termos de transito. O problema é que entre a zona de Pina-Manique e a
Decathlon de Alfragide a coisa muda radicalmente de figura. Esse troço apresenta
vários perigos, nomeadamente um transito habitualmente rápido demais,
condutores que não respeitam a distancia de segurança para com os
utilizadores de bicicletas, curvas apertadas e com pouca visibilidade e zonas sem qualquer iluminação. Refiro-me a esta zona:
Foto "emprestada" daqui
Dadas as características daquele trajeto urge fazer algumas mudanças, nomeadamente:
1 - Ligar os candeeiros!!!!
2 - Tomar medidas para reduzir a velocidade do trânsito automóvel (lombas, radares, sinalização, fiscalização)
3 - Construir uma ciclovia.
Sim, é verdade! Ali, também eu, defendo a criação de uma ciclovia.
Digo, também eu, por dois motivos:
1
- O primeiro é que, como já expliquei, não é fácil defender esta
solução por preferir habitualmente medidas que promovam a inclusão da
bicicleta no restante trânsito e não a sua segregação (há muita
informação na net defendendo esta estratégia). Logo, se defendo a
existência de uma ciclovia é porque há uma razão muito forte para isso! E
aqui há duas: A segurança de quem usa aquela percurso, e o potencial
estratégico do mesmo, por ligar zonas residenciais à ciclovia da radial de benfica.
2 - Porque não sou o único! Há
outros utilizadores de bicicleta que vêm apontando o mesmo, também fruto
da sua experiência. Mas há também muitas outras pessoas, certamente
muitas das que ficam engarrafadas nos seus carros nessa mesma estrada,
que passarão a usar a bicicleta quando essa obra for feita.
A
verdade é que para quem dá os primeiros passos, ou as primeiras
pedaladas de bicicleta na cidade, as ciclovias representam um incentivo
muito importante.
A possibilidade de ligar o Parque de
Campismo é também um objectivo a não descurar. Há uns meses encontrei um
casal de reformados holandeses, em Turismo por Lisboa, que saiam do
Parque de Campismo e estavam ali naquela estrada assustados e perdidos.
Escoltei-os até ao inicio da ciclovia em Pina-Manique e dali seguiram
para explorar o resto da cidade. Confesso que nesse momento me
envergonhou o atraso do nosso país nesta matéria...
Por
tudo isto, gostava mesmo que fosse construída uma ciclovia no troço
Alfragide-Lisboa. Naturalmente que seria interessante e faz todo o
sentido que a mesma depois siga em direcção a Algés, mas julgo que o
primeiro troço é prioritário e essencial por questões de segurança!
Acrescento ainda que isto de reivindicar ciclovias não é um capricho! Não se tratam de
exigências vãs. Em primeiro lugar, esta necessidade prende-se com
segurança dos utilizadores daquela estrada! Mas já agora, convém
relembrar que o uso da bicicleta no dia-a-dia interessa a todos! Até aos
que não prescindem do carro. Reparem: Em cada mês percorro cerca de
300km nas minhas deslocações casa-trabalho-casa. Isso tem um impacto
imenso na minha qualidade de vida, nomeadamente no meu bem-estar físico e
psíquico. Mas não só. Representa também menos um carro a engarrafar os
restantes, a ocupar um espaço de estacionamento, a emitir poluição
atmosférica e sonora, a contribuir para a importação de combustíveis
fósseis. Ah... e tal como vários estudos apontam, a utilização regular
da bicicleta promove uma maior eficácia laboral e a redução no número de
baixas médicas. Por isso é que há países europeus onde as empresas
pagam aos seus funcionários para usarem a bicicleta. Porque sabem que no
final, ficam a ganhar! Por cá, pedalamos ainda muitas vezes contra a
corrente... mas a maré está a mudar, e é altura de construir esta ciclovia.Nota:
Este tópico surge na sequência da iniciativa do autor deste blog, a propósito da necessidade de construção desta ciclovia. Recomendo a leitura do, muito detalhado, estudo que ele fez sobre este assunto. Nuro, bem haja a tua iniciativa! Espero que se crie uma massa crítica capaz de fazer avançar esta obra que interessa a todos! Vamos a isto! Quem se quiser associar, começe por deixar aqui o seu manifesto e junta-se à causa.